Visões para 2125: Favelas como Centros de Criatividade
O conceito de requalificação das favelas no Rio de Janeiro tomou forma a partir das reflexões de diversos arquitetos e urbanistas consultados pelo GLOBO. Eles se debruçaram sobre o desafio de projetar a cidade como se verá daqui a cem anos. Em meio a esses relatos, a urgência em melhorar as condições de moradia e reduzir as desigualdades sociais desponta como essencial para a construção de um futuro mais justo. Essa conversa ocorreu no contexto das comemorações pelo centenário do GLOBO, que em 29 de julho de 2025, celebrará sua primeira edição, lançada em 1925.
No artigo que aborda as transformações urbanas do Rio, o arquiteto Washington Fajardo, conhecido por seu trabalho em planejamento urbano, projeta que em 2125 “as favelas não desapareceram, mas melhoraram significativamente”. Ele imagina a Rocinha transformada por um processo de qualificação urbana que respeita sua identidade e densidade. Fajardo sugere a incorporação de edifícios ecológicos, espaços públicos elevados, áreas arborizadas e sistemas sustentáveis, criando um ambiente urbano inovador.
Estruturas que Promovem Interação e Cultura
Para Fajardo, essa solução também permite a desarticulação de becos e vielas, ampliando o espaço público e facilitando a implementação de infraestrutura que promove interação social. Assim, a favela se torna um “epicentro de cultura e criatividade”. Ele prevê que todos os projetos urbanísticos sejam realizados com o auxílio de sistemas gêmeos digitais e Empatia Artificial, com a participação ativa da comunidade. Ao final, Fajardo expressa um desejo esperançoso para que, em 100 anos, a Rocinha represente uma força da democracia digital.
Fernando Pereira, morador do Morro da Providência e fundador do Instituto Arquitetos de Favela, também centra sua análise na requalificação das favelas. Pereira acredita que o Rio é uma cidade predominantemente composta por favelas e que estas devem ser priorizadas tanto no presente quanto no futuro. “Acesso à moradia é fundamental”, afirma. “É o primeiro passo para a dignidade.”
Uma Abordagem Social e Sustentável
Em uma entrevista ao GLOBO, o renomado arquiteto Diébédo Francis Kéré, premiado com o Pritzker, enfatiza a importância de uma abordagem social na construção do Rio do amanhã. Ele defende que “os assentamentos informais precisam respirar” e que o planejamento urbano deve promover frescor, segurança e identidade. Kéré sugere que, em vez de intervenções massivas, pequenas e precisas ações — comparadas à acupuntura urbana — são mais eficazes para promover a transformação. “Deve-se desenvolver um sistema habitacional modular e sustentável que se adeque à realidade dos assentamentos informais”, recomenda Kéré, que acredita que a prosperidade das comunidades reforça a força da cidade como um todo.
Reflexões sobre um Século de Desigualdades
Em um artigo encomendado pelo GLOBO, Marcela Abla, presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil no Rio (IAB-RJ), analisa o último século da cidade, conhecida mundialmente por sua beleza natural, mas marcada por profundas desigualdades sociais e uma estrutura urbana excludente, evidenciada pela crise habitacional persistente.
Luiz Carlos Toledo, arquiteto e urbanista, compartilha uma preocupação semelhante ao afirmar que o futuro do Rio não deve aceitar a desigualdade. Ele defende que a cidade deve garantir o direito à habitação para todos, integrando as favelas e periferias como bairros populares.
O Equilíbrio na Visão do Futuro
O coordenador do Observatório das Metrópoles, Luiz Cesar de Queiroz Ribeiro, aborda a complexidade de imaginar o futuro, questionando se devemos buscar o futuro que desejamos ou o que parece ser o caminho natural. Ribeiro sugere que é crucial sair dessa dicotomia e focar nas questões urgentes que precisam ser resolvidas para que o futuro seja distinto do presente. “É preciso restaurar a capacidade institucional para projetar o futuro, em vez de administrar apenas projetos emergenciais”, finaliza.