Mercado Financeiro em Reação
Na última sessão da semana, o dólar encerrou o dia (18) com um expressivo aumento de 0,75%, alcançando a cotação de R$ 5,588, o maior valor desde 4 de junho, quando o fechamento foi em R$ 5,645. Curiosamente, essa alta ocorre em um momento em que a moeda americana se desvalorizava no cenário externo, fazendo com que, ao longo da semana, o dólar acumulasse também 0,75% de crescimento.
Por outro lado, a Bolsa de Valores despencou 1,61%, atingindo 133.381 pontos. Durante o pregão, a mínima registrada foi de 133.295 pontos, o menor nível intradiário desde 7 de maio, enquanto a máxima chegou a 135.562 pontos. Ao longo da semana, a Bolsa registrou uma queda total de 2,07%.
Operação da PF e Temores no Mercado
A operação da Polícia Federal (PF) que envolve o ex-presidente Jair Bolsonaro gerou apreensão entre os investidores. O receio é que a situação desencadeie uma reação mais agressiva de Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, em relação às tarifas comerciais aplicadas ao Brasil.
Com uma agenda econômica interna já esvaziada, sem a divulgação de novos indicadores, o mercado direcionou seu foco para as notícias políticas. Logo no início do dia, a atenção dos investidores se voltou para a operação da PF, que foi autorizada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.
Bolsonaro passará a usar uma tornozeleira eletrônica, ficará proibido de utilizar redes sociais e deverá permanecer em domicílio das 19h às 6h durante a semana e integralmente nos fins de semana e feriados.
Pressão Comercial e Temores de Retaliação
Os investidores começaram a avaliar as possíveis consequências da ação contra o ex-presidente na relação comercial entre Brasil e EUA. Há uma preocupação crescente de que Trump aproveite a situação para intensificar suas ações tarifárias contra o Brasil, o que contribuiu para a valorização do dólar em relação ao real. No pico do dia, a moeda chegou a ser negociada a R$ 5,598, com um aumento de 0,93%.
“O que preocupa o mercado não é apenas a turbulência interna, mas também o risco de uma reação por parte do presidente americano. Há um temor real de que Trump utilize a situação para justificar um aumento nas tarifas contra o Brasil”, comentou Christian Iarussi, economista e sócio da The Hill Capital. Essa preocupação é compartilhada por Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, que destaca que o ambiente de tensão se intensifica com a presença de Trump nesse contexto.
Perspectivas para o Conflito Comercial
Na visão de Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, existe um risco iminente de um agravamento do conflito após a decisão do STF. “Houve uma indicação por parte dos EUA de que poderia haver uma abertura para negociação, mas Trump trouxe de volta o foco na questão de Bolsonaro. A expectativa sobre as reações da Casa Branca é incerta”, afirmou.
Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX, ressalta que vincular tarifas a questões políticas e judiciais torna difícil para o Brasil encontrar soluções ou propostas de negociação que amenizem a tensão.
Repercussões das Declarações de Lula e Trump
Os investidores também reagiram às recentes declarações de Lula e Trump, especialmente no que diz respeito à sobretaxa de 50% que os EUA impuserão ao Brasil a partir de 1º de agosto. Em um pronunciamento em cadeia nacional, Lula qualificou a decisão de Trump como uma “chantagem inaceitável”, atacando ainda aqueles que apoiam a sobretaxa, classificando-os de “traidores da pátria”. Ele enfatizou que todas as empresas, nacionais ou internacionais, devem obedecer às regras do país.
Por sua vez, Trump enviou uma carta a Bolsonaro, expressando preocupação com o que chamou de “tratamento injusto” que seu aliado estaria recebendo. “Este julgamento deve terminar imediatamente!”, declarou Trump em um post na sua rede social Truth Social.
Impacto Global e Previsões Econômicas
No cenário internacional, Trump reiterou suas ameaças de aplicar tarifas sobre os membros do Brics, afirmando que o grupo acabaria rapidamente se se consolidasse de forma significativa. Além disso, ele está pressionando por tarifas de 15% a 20% sobre a União Europeia. Esses desenvolvimentos estão levando os mercados globais a avaliar as possíveis consequências das tarifas americanas sobre a atividade econômica nos EUA, que, segundo dados recentes, mostram uma resiliência da maior economia do mundo.
Na quinta-feira, as vendas no varejo superaram as expectativas, enquanto houve uma queda inesperada nos pedidos iniciais de auxílio-desemprego, indicando uma força contínua na economia dos Estados Unidos.