Entendendo o Transtorno de Acumulação
O acúmulo excessivo de objetos, muitas vezes sem valor ou utilidade, pode ser classificado como um transtorno mental sério. Essa condição, reconhecida pela psicologia, não apenas afeta a saúde dos acumuladores, mas também impacta diretamente as comunidades vizinhas. Em Maceió, a Vigilância Sanitária já recolheu, neste ano, cerca de 17 toneladas de entulhos de residências em bairros como Santo Amaro, Santa Lúcia, São Jorge e Santa Amélia, evidenciando a gravidade do problema.
Os casos de acúmulo revelam a presença do que os especialistas definem como Transtorno de Acumulação, caracterizando ambientes que tornam-se inseguros e insalubres, repletos de riscos sanitários como a proliferação de insetos, roedores e escorpiões. “O recolhimento dessas 17 toneladas ocorreu em casas ou terrenos adjacentes a residências de acumuladores. É um trabalho contínuo, visando a saúde pública de todos”, afirma Airton Santos, chefe da Vigilância Sanitária (Visa).
Recentemente, em 8 de agosto, após denúncias de moradores, equipes da Autarquia de Desenvolvimento Sustentável e Limpeza Urbana (Alurb) e da Visa retiraram 10 toneladas de entulho em Santa Lúcia. Em um caso anterior, em julho, duas toneladas de lixo foram removidas de uma residência em Santa Amélia, onde um homem vivia em condições deploráveis, infestadas de ratos, baratas e escorpiões. “Era difícil acreditar que alguém pudesse viver em tais condições”, relataram os agentes envolvidos.
Condições Subjacentes e a Realidade do Acúmulo
Os ambientes de acúmulo podem ser descritos como caóticos, apresentando uma variedade de objetos, desde equipamentos eletrônicos quebrados até mobiliário danificado, em um estado de desordem alarmante. No dia 9 de junho, por exemplo, uma ação conjunta entre a Alurb e a Secretaria Municipal de Segurança Cidadã (Semsc) removeu cerca de quatro toneladas de lixo de uma casa em Santa Lúcia, resultado de uma denúncia anônima.
Segundo Airton Santos, as condições encontradas nas residências geralmente refletem abandono, com paredes mofadas e infestação de pragas. “Essa situação é anormal e coloca em risco tanto o próprio acumulador quanto os vizinhos”, destaca o responsável pela Vigilância Sanitária.
A acumulação compulsiva é um transtorno mental classificado no DSM-5, que se caracteriza por uma dificuldade persistente de descartar objetos, independentemente de seu valor. A psicóloga Amanda Santos explica que as pessoas afetadas frequentemente sentem intensa angústia ao pensar em se desfazer de itens, muitas vezes acreditando que podem ser úteis no futuro ou desenvolvendo apego emocional a objetos sem valor.
As Consequências do Acúmulo na Vida Social
Com o passar do tempo, esse comportamento leva ao acúmulo desorganizado de objetos que ocupam espaços vitais da casa, como camas e banheiros, comprometendo não somente a convivência social, mas também a saúde do indivíduo e de sua comunidade.
“Em bairros de Maceió, temos observado um aumento nos casos de acumulação, geralmente identificados pela Vigilância Sanitária ou por denúncias de vizinhos. Esse problema torna-se mais visível quando representa um risco à saúde pública, como a proliferação de insetos ou odores fortes”, observa Amanda Santos.
A psicóloga acrescenta que por trás dos comportamentos compulsivos muitas vezes existem histórias de dor e trauma. Em sua prática, é comum notar que os acumuladores lidam com perdas significativas, depressão e ansiedade, além de um forte sentimento de isolamento social.
O Papel da Comunidade e os Caminhos para a Recuperação
Quando sinais de acumulação são percebidos, é crucial evitar confrontos que podem levar a uma resistência ainda maior. O ideal é promover o diálogo familiar e buscar a ajuda de órgãos públicos, como a assistência social e os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), que podem oferecer o suporte necessário.
É importante ressaltar que a simples remoção dos objetos não resolve o problema, pois muitas vezes, a limpeza forçada pode trazer traumas e intensificar o comportamento de acumulação. “O acolhimento é fundamental antes de qualquer intervenção. Sem o apoio terapêutico adequado, a reincidência é bastante alta”, enfatiza Amanda.
Além do Transtorno de Acumulação Compulsiva, muitos pacientes apresentam comorbidades, como Transtorno Obsessivo-Compulsivo, Transtorno Depressivo Maior e Transtornos de Ansiedade Generalizada. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, quando um transtorno mental é identificado em acumuladores, os casos são encaminhados para as equipes de Saúde Mental, que buscam viabilizar o atendimento nos CAPS.