A Tristeza de estádios Abandonados
Nos últimos dez anos, Maceió tem enfrentado uma dura realidade com a perda de alguns dos seus mais tradicionais estádios. O Estádio Severiano Gomes Filho, localizado na Pajuçara, foi vendido em 2014 pelo CRB a uma rede de supermercados. Já o Estádio Gustavo Paiva, no Mutange, pertencia ao CSA e foi severamente afetado pelo afundamento do solo causado por obras da Braskem. Outro espaço emblemático, o Estádio Nelson Peixoto Feijó, carinhosamente conhecido como “Nelsão da Via Expressa”, também deixou de ser uma casa para o Corinthians alagoano.
Atualmente, na Pajuçara, o que restou é apenas um terreno que carrega a tristeza e a nostalgia de quem presenciou os vibrantes jogos que ali ocorreram. “É muito doloroso ver aquele lugar abandonado. Eu tenho tantas memórias e isso deixa uma saudade imensa. O bairro perdeu um brilho muito importante”, lamenta Cawã Nicolas, um torcedor fervoroso do regatiano.
Além disso, o CSA também se despediu de seu elo histórico com o Mutange, um bairro que, tristemente, deixou de existir. O CT Gustavo Paiva, que foi fundado em 1922, agora se transformou em um canteiro de obras, resultado de um crime ambiental que impactou a região. No local, o Azulão viveu momentos gloriosos, revelou grandes craques e eternizou lembranças que ainda ecoam entre os fãs.
Ao anunciar a saída definitiva do CT, o então presidente do CSA, Rafael Tenório, não conteve as lágrimas: “Aquilo, para mim, é como se um filho estivesse indo embora.”
O Legado do Nelsão da Via Expressa
O Estádio Nelson Peixoto Feijó, inaugurado em 2001, destacou-se na ascensão do Corinthians Alagoano e depois serviu também ao CRB e CSA. Hoje, este espaço emblemático passa por um processo de transformação, visando seu uso imobiliário, após ter sido vendido.
Para o doutor em Comunicação e professor da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Anderson Santos, os clubes da capital perderam mais que apenas campos de jogo; eles perderam pontos de encontro e símbolos fundamentais da identidade local. “O futebol é uma parte essencial da construção social e comunitária. Em particular, no caso do CRB e do CSA, que estavam situados em áreas densamente povoadas”, explica.
Segundo Santos, o fechamento desses espaços não só representa um afastamento físico, mas também simbólico da torcida. “Embora o novo CT esteja localizado em um bairro mais populoso, ele ainda assim é geograficamente distante. Isso limita a interação diária dos torcedores com o clube. Atualmente, a paixão pelo time é mantida quase exclusivamente durante os jogos no Estádio Rei Pelé e em ocasiões especiais, quando o CT pode abrir suas portas para os torcedores”, analisa.
Ele pontua que essas transformações evidenciam como a história do futebol é marcada por conflitos territoriais e econômicos.
A Resistência do Interior
Enquanto as antigas casas do futebol na capital se distanciam, o interior alagoano mantém seus estádios como parte intrínseca da comunidade. Em Arapiraca, o Estádio Fumeirão permanece como a fortaleza do ASA, mesmo após o clube inaugurar seu Centro de Treinamento.
“A proximidade da arquibancada ao campo, a interação que os torcedores têm com os atletas após os jogos, e a conexão que se forma entre eles é cultural e essencial para o clube”, afirma Fabiano Leão, secretário de esporte de Arapiraca e fervoroso torcedor do ASA.
“Apesar das reformas recentes, o Fumeirão preservou sua identidade”, comenta Rogério Siqueira, presidente do ASA.
Uma situação semelhante ocorre em Palmeira dos Índios, onde o Estádio Juca Sampaio continua sendo um local de futebol e de encontros sociais, reafirmando seu papel como espaço de convivência.
O Futuro do Estádio Rei Pelé
Inaugurado em 1970, o Estádio Rei Pelé enfrenta sérios problemas estruturais e uma gradual diminuição em sua capacidade. A deputada estadual Cibele Moura (MDB) sugeriu a concessão de naming rights como uma alternativa para atrair investimentos privados e viabilizar a modernização do estádio.
Anderson Santos acredita que essa medida poderia trazer benefícios financeiros, mas alerta para as resistências simbólicas que pode enfrentar: “Qualquer empresa que deseje associar seu nome a um estádio com mais de 50 anos terá um grande desafio de marketing para que o nome ‘Estádio Rei Pelé’ e o apelido ‘Trapichão’, já enraizados na cultura popular, não sejam esquecidos.”
O professor reflete sobre o equilíbrio necessário entre tradição e futuro: “O sucesso depende da torcida, que é o verdadeiro patrimônio do clube. É fundamental considerar o apoio da comunidade em tempos difíceis e a importância do lazer como um direito. Qualquer mudança deve incluir a participação de quem realmente constrói a história do clube, para evitar consequências negativas.”