Peixe-leão: Uma Invasão Preocupante
O peixe-leão, uma espécie originária do Indo-Pacífico, foi identificado em diversas áreas do litoral de Alagoas e gera preocupação entre especialistas devido aos impactos que pode causar na fauna marinha e nas atividades econômicas locais. O professor e biólogo Cláudio Sampaio, da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), destaca que este animal se tornou um invasor eficiente graças a suas características: “Ele não possui predadores naturais nas áreas que invadiu, tem espinhos venenosos, se alimenta de forma generalista, se reproduz rapidamente e possui alta longevidade”.
O primeiro registro do peixe-leão no Brasil ocorreu em 2014, no estado do Rio de Janeiro. Desde então, a espécie se espalhou rapidamente, sendo capturada em recifes amazônicos de 2020, atingindo locais como Fernando de Noronha em 2022, e mais recentemente, os litorais do Rio Grande do Norte em 2023 e Alagoas e Paraíba em 2024. A Bahia também registrou a presença do peixe-leão neste ano, confirmando a expansão da espécie.
Desafios na Contenção do Peixe-leão
A presença do peixe-leão nos mares brasileiros parece ser uma realidade irreversível. Sem predadores e com uma reprodução que pode gerar até 30 mil ovos de uma só vez, a espécie se adapta a diversos ambientes marinhos, dificultando seu controle. Em Alagoas, o peixe-leão foi encontrado em áreas como os recifes da Área de Proteção Ambiental (APA) Costa dos Corais, em naufrágios em Maceió, na Lagoa Azeda e no Pontal do Peba. Esses registros foram feitos durante atividades de pesca que utilizam arpões, redes de caceia e arrastos de camarão.
Conforme o professor Sampaio, o peixe-leão é um predador voraz que ataca peixes e crustáceos, essenciais para a pesca artesanal e comercial. “Ele causa desequilíbrio ecológico e impacto econômico, competindo com espécies nativas e reduzindo os estoques pesqueiros”, explica.
Ameaças aos Mergulhadores e Pescadores
Além dos efeitos ecológicos e econômicos, os espinhos venenosos do peixe-leão representam um risco para mergulhadores e pescadores desavisados. Em caso de acidente, as vítimas podem sentir dores intensas, náuseas e, em casos extremos, convulsões. Por isso, Sampaio recomenda que o peixe não seja manuseado sem o uso de equipamentos adequados. Caso haja um acidente, é aconselhável aplicar água quente entre 40°C e 45°C na área afetada e buscar atendimento médico. Se um pescador acidentalmente capturar um peixe-leão, é importante mantê-lo em gelo e informar as autoridades ambientais locais.
Ações de Conscientização e Controle
Para enfrentar a expansão do peixe-leão, a UFAL, em colaboração com instituições como ICMBio, IBAMA e o Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA), está promovendo ações de conscientização, capacitação e manejo. “Estamos trabalhando para divulgar os riscos associados ao peixe-leão e instruir pescadores e guias turísticos sobre como agir em caso de avistamento ou captura”, enfatizou Sampaio.
O IMA, junto com a UFAL e empresas de mergulho, realiza monitoramento ativo das áreas recifais da Grande Maceió. Essas atividades visam registrar a presença de espécies marinhas, especialmente as exóticas, em locais de alta vulnerabilidade ambiental, como a Piscina do Amor, uma área de grande fluxo turístico e sensibilidade ecológica. Outro ponto de monitoramento é a zona portuária de Maceió, utilizada para observar e registrar organismos marinhos que possam comprometer o ecossistema.
O Que Esperar Para o Futuro?
A ameaça do peixe-leão nas águas costeiras de Alagoas é crítica, e o IMA está realizando esforços interinstitucionais para prevenir e controlar sua presença. O gerente de Gerenciamento Costeiro do IMA, Ricardo César, alertou que o futuro pode ser alarmante, visto que as condições ambientais do litoral alagoano favorecem a expansão do peixe-leão, devido a temperaturas elevadas e estabilidade térmica das águas.