O Papel do Esporte na Educação
É curioso, para um educador que atua nas áreas de História e Sociologia, discutir a relevância do esporte nas escolas, um tema frequentemente associado à Educação Física. No cotidiano escolar, existe uma separação gritante: de um lado, as salas de aula tradicionais, repletas de giz, canetões e lousas; do outro, a quadra, desejada por alunos como se fosse um verdadeiro santuário. As aulas de Educação Física muitas vezes se transformam em momentos de escapismo, sem um propósito claro.
Quebrar essa lógica é fundamental se quisermos promover mudanças significativas que envolvam tanto alunos quanto professores e a dinâmica do ensino-aprendizagem. O esporte, quando inserido de maneira ampla no contexto escolar, pode e deve atravessar todas as disciplinas, promovendo a interdisciplinaridade.
Experiências Transformadoras
Uma lembrança marcante da minha própria trajetória escolar foi quando, ainda no Ensino Médio, a escola nos preparou para um grande evento cultural em celebração à Copa do Mundo de 2014. Cada turma tinha a responsabilidade de escolher um dos países participantes do torneio para pesquisar e apresentar sua cultura, língua, questões políticas e gastronômicas. Minha turma ficou encarregada da Argélia, e acabei me vestindo de “berbere”, uma experiência que foi tanto divertida quanto educativa.
Em 2022, já como professor, realizei uma atividade semelhante com os estudantes. Durante os jogos interclasses daquele ano, cada turma sorteou uma seleção da Copa do Mundo de 2022 e competiu entre si. A proposta não se limitou ao futebol; inclui vôlei e queimada, diversificando a prática esportiva. Torcíamos, nos divertíamos e, para minha surpresa, até pintei o rosto com as cores da bandeira do Equador para apoiar o 7º ano A.
No ano seguinte, organizamos um campeonato de tênis de mesa que se estendeu por algumas semanas. Foi gratificante ver os alunos e alunas completamente envolvidos nas partidas, torcendo pelos colegas e, ao final, os campeões tiveram a oportunidade de ser premiados por seus amigos.
Jogos Interclasses: União e Identidade
Os jogos interclasses são experiências comuns em muitas escolas, geralmente realizados no final do ano letivo. Esse é um momento crucial para aliviar a pressão de um ano repleto de desafios e problemas relacionados à Secretaria de Educação. A escola, que muitas vezes serve como um espaço de alienação, tem a chance de se transformar, mesmo que temporariamente, em um ambiente que promove a integração e a identidade entre os estudantes.
Esses jogos vão além da quadra de Educação Física, envolvendo os alunos também fora dela. É maravilhoso observar os cartazes cheios de criatividade que os alunos produzem, ouvir os gritos de torcidas e ver as pinturas coloridas nas faces de cada um. Tudo isso dentro de uma competitividade saudável, que não exclui, mas sim agrega.
Além disso, esses momentos também são oportunidades valiosas para trabalhar a diversidade de gênero nas práticas esportivas. Observamos meninas e meninos sendo premiados juntos, o que ajuda a combater o machismo na escola, uma luta que deve continuar muito além das competições.
Para os educadores, é uma ocasião propícia para estabelecer ou reforçar laços com os alunos, o que pode facilitar o trabalho com outros conteúdos mais tarde. A concentração exigida pelo esporte, seja durante uma partida de tênis de mesa ou em jogos com bola, contribui para uma melhor relação entre ensino e aprendizagem.
A Importância da Interdisciplinaridade
Viver o esporte na escola é uma experiência tão enriquecedora que seria uma injustiça deixá-la apenas nas mãos do professor de Educação Física. A instituição como um todo precisa se envolver na prática esportiva, superando a divisão que frequentemente existe entre diferentes áreas do conhecimento. Afinal, o aprendizado não se restringe apenas ao intelecto ou ao físico; é uma união de ambos. Essa totalidade, longe de se desintegrar, se completa.

