O Saldo Migratório de Alagoas e as Mudanças Demográficas
De acordo com dados recentes do Censo Demográfico 2022, divulgados em 27 de junho pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Alagoas apresentou um saldo migratório negativo de aproximadamente 42 mil pessoas entre 2017 e 2022. Durante esse período, 74 mil indivíduos chegaram ao estado, enquanto cerca de 117 mil decidiram se mudar para outras regiões do Brasil.
A Região Sudeste foi o destino preferido para a maioria dos alagoanos, destacando-se São Paulo como o principal polo de atração. Essa movimentação faz parte de um fenômeno migratório mais amplo que, no mesmo intervalo, envolveu 19,2 milhões de brasileiros que deixaram suas regiões de origem. Dentre esses, cerca de 10,4 milhões eram oriundos do Nordeste, com 65,5% dos migrantes se estabelecendo no Sudeste.
O Contexto da Migração Nordestina
Santa Catarina, por sua vez, apresentou o maior saldo migratório positivo do país, recebendo aproximadamente 354 mil pessoas. O estado sulista registrou 503 mil imigrantes e 149 mil emigrantes, mostrando uma dinâmica migratória distinta.
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A professora e mestre em geografia, Rayane Mendonça, discute os fatores históricos que impulsionam o deslocamento de nordestinos para o Sudeste. “Historicamente, a região Nordeste tem um saldo migratório negativo, principalmente devido à busca por melhores oportunidades de trabalho em outras regiões. O Sudeste é visto como um centro industrial e econômico, atraindo muitos trabalhadores em busca de salários mais altos e melhores condições de vida”, explica a especialista.
Desafios e Oportunidades
Segundo a pesquisadora, a falta de empregos formais e os salários insuficientes são catalisadores significativos para a migração de alagoanos. “Além da escassez de empregos bem remunerados, o custo de vida em Alagoas pode ser elevado, e os salários nem sempre refletem essa realidade. Isso leva muitos a procurar melhores cursos de vida, acessibilidade a serviços públicos e segurança”, conclui.
Histórias pessoais, como a de Benedito Júnior e Ingrid Mayara, exemplificam essa realidade. O casal, natural de Limoeiro de Anadia (AL), fez a transição para Serrana, em São Paulo, com seus dois filhos em busca de novas oportunidades.
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A Experiência da Mudança: Benedito e Ingrid
Benedito, um motorista de caminhão, comenta sobre a empregabilidade na nova cidade. “Aqui em Serrana, a chance de conseguir emprego é muito maior do que na minha cidade. Por ser um lugar mais desenvolvido, há mais empresas e, consequentemente, mais oportunidades. Os salários também são melhores em comparação com minha cidade natal”, relata.
Entretanto, Benedito também destaca as diferenças climáticas e sociais que encontrou. “O clima é bem diferente, com temperaturas que chegaram a 1º C. Isso é um desafio para se acostumar. Além disso, percebo que as pessoas aqui conversam menos. Na minha cidade, todos se cumprimentam e costumam se reunir no quintal, enquanto aqui as interações são limitadas,” conta.
Ingrid acrescenta que a mudança teve um impacto relevante no orçamento familiar e nos serviços públicos. “Os salários aqui são mais altos, enquanto em Alagoas, as oportunidades de trabalho eram escassas. E quando aparecia alguma, metade do salário ia para o transporte até o trabalho”, afirma.
Aspectos Estruturais e Qualidade de Vida
Ela também menciona as diferenças nas áreas de saúde e educação. “Aqui, a infraestrutura das escolas e dos serviços de saúde é notável. Há várias especialidades médicas disponíveis no SUS que antes não eram acessíveis para mim”, observa.
As trajetórias de Benedito e Ingrid revelam uma tendência evidente que, segundo o IBGE, continua a moldar o panorama demográfico brasileiro. O movimento migratório não apenas altera a dinâmica populacional, mas também traz um conjunto de desafios e oportunidades tanto para os que migram quanto para os que permanecem em suas localidades de origem.