Aumento das Tensões na Europa e o Retorno das Bombas Nucleares
Os Estados Unidos realizaram a transferência de um número indefinido de bombas nucleares para uma base pertencente à sua Força Aérea no Reino Unido, marcando o primeiro envio deste tipo desde 2008. Este movimento está inserido em um contexto de crescente tensão na Europa, especialmente entre os britânicos, em resposta à percepção de ameaça representada pela Rússia após a invasão da Ucrânia em 2022. Atualmente, quase todos os países do continente estão adotando medidas de rearmamento.
As bombas B61-12, que foram enviadas, são classificadas como táticas, projetadas para um uso que teoricamente se limita ao campo de batalha, podendo ser lançadas a partir de aeronaves. Até este momento, os EUA mantinham cerca de cem dessas unidades em seis bases espalhadas por cinco países da Aliança da Otan.
Capacidade Aumentada com Novos Caças F-35
Na Bélgica, a Força Aérea local adquiriu caças F-35 de quinta geração, que possuem a capacidade de lançar essas bombas nucleares. O Reino Unido também anunciou planos de modernização de sua frota de aeronaves, com foco na nova doutrina estratégica apresentada no último mês. Assim, espera-se que, com a chegada dos novos F-35, Londres amplie sua capacidade de emprego de armas nucleares em missões aéreas.
Atualmente, o Reino Unido figura entre as nove potências nucleares do mundo, possuindo cerca de 225 ogivas, que podem ser lançadas por submarinos. Em conjunto, o Reino Unido e a França estão implementando um programa de coordenação de seus arsenais nucleares, visando assegurar a proteção da Europa, especialmente em um cenário de desengajamento americano observado durante a administração Trump.
Expectativa e Operações Secretas
A chegada das bombas nucleares ao Reino Unido era esperada desde 2022, quando o Pentágono priorizou a reforma das instalações na base de Lakenheath, localizada em Suffolk, ao nordeste de Londres. Embora os governos dos dois países ainda não tenham confirmado oficialmente a transferência, relatos de veículos como o Telegraph, Daily Mail, UK Defence News, e The War Zone indicam que as bombas já estão prontas para uso. A operação de transporte foi acompanhada por monitoramentos de aviões C-17, que realizaram o percurso até Lakenheath.
Um evento intrigante ocorreu durante a Royal International Air Tattoo, uma feira militar britânica que aconteceu no último fim de semana. Um jornalista da revista Aviation Week publicou uma imagem de uma moeda comemorativa do 493º Esquadrão de Caça dos EUA, baseado em Lakenheath, que representa um cogumelo atômico, com a inscrição de seu lema, “Prepare-se para conhecer seu criador”, além de uma imagem da bomba B61 e seu mascote, a Morte.
Um Novo Cenário Geopolítico
A base de Lakenheath foi um ponto crucial para as armas nucleares americanas durante a Guerra Fria. Em 2005, os EUA iniciaram um processo gradual de desarmamento, retirando suas bombas. Contudo, o contexto internacional atual exige uma reavaliação dessa estratégia. Um porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, comentou: “Estamos observando uma escalada das tensões e a militarização nuclear; nossos departamentos estão atentos a esses desenvolvimentos.”
Essa movimentação ocorre logo após a Rússia ter instalado bombas táticas na Belarus, país vizinho que faz fronteira com membros da OTAN como Polônia, Letônia e Lituânia. Os poloneses já solicitaram ao governo americano a instalação de armas em seu território, o que intensifica ainda mais as incertezas na região.
O governo britânico acredita que um possível confronto entre a Rússia e a OTAN poderia ocorrer entre 2027 e 2030, levando a um clima de preocupação crescente. Moscou, por sua vez, classifica essas alegações como alarmismo, afirmando adotar apenas uma postura defensiva. Bombas nucleares táticas são um tema polêmico, pois, apesar de serem projetadas para uso em batalhas, sua utilização pode escalar rapidamente para um conflito em larga escala.
As bombas B61, por exemplo, possuem uma potência que varia de 0,3 quilotons a 50 quilotons, o que é significativamente mais forte do que a bomba lançada sobre Hiroshima em 1945. Até hoje, mais de 3.000 unidades desse tipo foram produzidas, com um custo aproximado de US$ 28 milhões (cerca de R$ 156 milhões) por unidade.