Pesquisa Científica Desafia Avaliações Oficiais
Um relatório técnico apresentado nesta sexta-feira (8) em audiência pública levanta questionamentos sobre o mapa de criticidade das áreas afetadas pela subsidência do solo em Maceió, elaborado pela Defesa Civil. O documento, fruto de um estudo independente, indica que a metodologia utilizada para a elaboração do mapa não corresponde aos padrões internacionais e sugere que a reavaliação dos danos nas comunidades impacted é urgente. Em termos práticos, áreas que atualmente não são consideradas de risco podem, de fato, estar incluídas no mapa de criticidade.
Segundo o relatório, “o método não está alinhado com a literatura internacional e parece contradizer as evidências observadas em campo. Os dados sugerem a necessidade de uma revisão do Mapa de Ação Prioritária, que contém registros de prédios danificados que apresentaram deslocamentos, mas que não foram devidamente classificados”, afirmou Marcos Eduardo Hartwig, doutor em Geologia da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e coordenador do grupo de pesquisa responsável pelo estudo.
Hartwig, que é um dos pesquisadores independentes envolvidos, criticou a escolha de um deslocamento de apenas 5 milímetros para a definição das zonas de risco, afirmando que essa abordagem é inadequada. Ele recomendou a implementação de monitoramento contínuo utilizando a tecnologia A-DInSAR, além da criação de um novo mapa que represente com precisão os níveis de danos nas edificações, especialmente na Zona 01 e áreas vizinhas.
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Avaliações e Evidências de Campo
Durante a apresentação, realizada no auditório do Cesmac, Hartwig mostrou mapas que evidenciam as análises feitas em ruas e imóveis em áreas como Bom Parto e Flexais, onde moradores vivem uma situação de isolamento social e não estão contemplados no mapa de realocação. As análises feitas entre junho de 2019 e dezembro de 2024 indicaram deformações significativas no solo em diversos pontos de Maceió.
O especialista destacou que é alarmante observar imóveis com numerosas rachaduras localizados em regiões que apresentam baixos deslocamentos. A hipótese levantada por Hartwig é de que as movimentações do solo possam ter se iniciado em 2004, período em que não havia monitoramento adequado.
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O estudo revelou que os deslocamentos verticais na área dos Flexais, que atualmente não aparece no mapa de risco, atingem até 10 milímetros anualmente, com deslocamentos horizontais que chegam a ser o dobro desses valores. Isso contrasta com o limite de 5 milímetros que é utilizado para definir as áreas de criticidade segundo o mapa vigente.
Origem e Credibilidade do Estudo
Este estudo inédito foi realizado por uma equipe interdisciplinar, envolvendo especialistas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), da University of Leipzig, da UFES, da Leibniz University Hannover e pesquisadores do GFZ – Helmholtz Centre for Geosciences. Os autores do relatório incluem nomes como Marcos Hartwig, Magdalena Vassileva, Fábio Furlan Gama, Djamil Al-Halbouni e Mahdi Motagh.
A pesquisa teve início em fevereiro de 2025, sob a iniciativa do Núcleo de Proteção Coletiva da Defensoria Pública do Estado de Alagoas, que promoveu a colaboração técnica necessária e requisitou os dados oficiais da Defesa Civil de Maceió utilizados na análise. A combinação de levantamentos de campo com dados públicos resultou em um trabalho que se destaca pela rigorosidade científica e pela independência metodológica, respeitando padrões internacionalmente reconhecidos.
Ao final da apresentação, o defensor público Ricardo Melro anunciou que levará as conclusões do estudo ao prefeito de Maceió, JHC, e a outros órgãos pertinentes, a fim de garantir que as informações sejam consideradas nas futuras ações de mitigação e prevenção de riscos na cidade.