Dissimulação e Ambiguidade na Política Brasileira
A política, frequentemente vista como um terreno fértil para a dissimulação, acaba de nos apresentar um novo episódio que merece atenção. Recentemente, assisti a um vídeo do ex-deputado Davi Davino Filho, um jovem que é parte de uma dinastia familiar que se beneficia de sucessivos mandatos. Com aspirações claras, ele já tentou a prefeitura de Maceió em 2020 e agora mira o Senado. Mas o que realmente interessa é o conteúdo do vídeo, que instiga mais dúvidas do que respostas.
No seu discurso, Davino parece falar incessantemente sem realmente transmitir uma mensagem clara. Por trás de suas voltas retóricas, ele defende de maneira velada os abusos associados ao bolsonarismo, mas evita assumir essa postura de forma direta, o que caracteriza um comportamento dissimulado típico.
O ex-deputado inicia seu vídeo no Instagram expressando uma preocupação exacerbada com “alertas” provenientes dos Estados Unidos em relação ao Brasil. Ele faz uma comparação com eventos históricos no Iraque e no Irã, onde os americanos alertaram sobre a instabilidade dos governos locais antes de intervir militarmente.
Em seu discurso, Davino responsabiliza o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, a ficar atento às mensagens que vêm da América. Ele cobra que os senadores alagoanos tomem providências e atuem conforme as diretrizes internacionais. Mas o que exatamente o “jovem” Davino pretende ao fazer esse discurso enigmático, repleto de retórica vazia?
“Algo muito grave pode acontecer por responsabilidade nossa. Os americanos estão nos dando a chance de continuarmos soberanos para resolver nossos problemas internamente”, diz ele. Mas, quando se trata de sugerir soluções práticas, Davino parece hesitante. Ele afirma: “Os senadores devem pedir para pautar a matéria”, mas não esclarece qual é essa “matéria”.
Se você está atento, sabe que ele se refere ao impeachment do ministro do STF, Alexandre de Moraes. É essa a questão em pauta, não é? Infelizmente, o ex-deputado, que se apresenta como destemido, acaba deixando transparecer uma falta de coragem para defender abertamente suas ideias. A matéria que ele menciona ali é claramente ligada à extrema direita.
Vamos analisar o cenário. Davino Filho claramente está de olho nos votos da base bolsonarista. Ele parece querer medir a receptividade de suas palavras, fazendo um aceno à ultradireita golpista. O mantra do ex-presidente Jair Bolsonaro e seus seguidores é claro: conquistar a maioria no Senado para implementar sua agenda. As ações e falas de Davino indicam que ele está disposto a participar desse jogo.
Embora o cenário político seja complicado, o que mais se destaca nesse episódio é a covardia manifestada por Davino. É triste notar que, apesar de pregar ideias semelhantes às do “bolsonarismo raiz”, ele tenta aparecer como uma figura limpa e isenta. Essa dualidade é irônica e, sem dúvida, gera repulsa em muitos observadores.