Entendendo o Cenário Atual
Um colapso na bolsa de valores dos Estados Unidos, conforme apontado por análises da The Economist, pode ser um dos desdobramentos mais aguardados da história financeira recente. Autoridades de bancos e o Fundo Monetário Internacional (FMI) têm expressado preocupações sobre as altas avaliações das empresas de tecnologia no país.
Para que as empresas atinjam um retorno de 10% sobre os investimentos em inteligência artificial até 2030, será necessário um montante impressionante de US$ 650 bilhões em receitas anuais, o que equivale a mais de US$ 400 por usuário de iPhone, de acordo com o banco JPMorgan Chase. Historicamente, essas expectativas otimistas frequentemente não se concretizam de imediato, mesmo quando as novas tecnologias têm potencial transformador.
Consequências de um Colapso
Embora a possibilidade de um colapso do mercado não seja uma surpresa para muitos, a reflexão sobre suas consequências ainda é pouco comum. Isso se deve, em parte, à percepção de que a probabilidade de uma queda significativa nas bolsas causar uma crise financeira ampla é, no momento, considerada baixa.
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Fonte: olhardanoticia.com.br
Diferente do cenário de 2008, quando a alavancagem excessiva e a engenharia financeira complexa alimentaram uma bolha imobiliária, a atual euforia em torno da inteligência artificial é sustentada, em grande parte, por capital próprio.
Além disso, a economia real mostrou uma resiliência notável nos últimos anos, superando choques como a crise energética na Europa e as tarifas impostas pelos EUA. As recessões têm se tornado cada vez mais raras.
O Impacto no Consumidor Americano
No entanto, subestimar o impacto de uma queda no mercado acionário seria um erro. O tempo prolongado de crescimento torna o financiamento do boom cada vez mais difícil de decifrar. Mesmo sem um colapso financeiro catastrófico, uma queda acentuada nas ações pode arrastar uma economia global até então robusta para uma recessão.
A vulnerabilidade central está no consumidor americano, que possui ações que representam 21% da riqueza das famílias, um aumento considerável em relação ao auge da bolha da internet. Os ativos ligados à inteligência artificial foram responsáveis por quase metade do aumento da riqueza das famílias nos últimos tempos. À medida que as famílias se tornaram mais ricas, diminuíram suas taxas de poupança em comparação ao período pré-pandemia (embora ainda acima do que se viu durante o auge da crise do subprime).
Potenciais Consequências Econômicas
Uma queda significativa na bolsa poderia inverter essas tendências. Estima-se que uma redução nas ações semelhante ao estouro da bolha da internet poderia diminuir o patrimônio líquido das famílias americanas em cerca de 8%. Isso causaria um impacto profundo no consumo. De acordo com uma regra prática, essa retração poderia traduzir-se em uma diminuição de 1,6% no PIB, suficiente para empurrar os EUA, que já enfrentam desafios no mercado de trabalho, para uma recessão. O efeito sobre o consumidor seria consideravelmente mais severo do que o impacto da redução nos investimentos em inteligência artificial, que, em grande parte, se destina a chips importados de Taiwan.
Um choque nas ações e a consequente diminuição da demanda nos EUA se refletiriam também na Europa, que já lida com crescimento baixo, e na China, que enfrenta deflação, intensificando os efeitos das tarifas impostas pelo ex-presidente Donald Trump. Além disso, com investidores internacionais detendo US$ 18 trilhões em ações americanas, a repercussão seria sentida globalmente.
Possíveis Saídas para a Crise
A boa notícia é que uma recessão global originada de um colapso das ações não precisa ser severa. Assim como ocorreu após o estouro da bolha da internet, onde a recessão foi breve e evitável para muitas economias robustas, existe a esperança de que isso se repita. O Federal Reserve (Fed), o banco central dos EUA, possui espaço para reduzir as taxas de juros e estimular a demanda, ao mesmo tempo que outros países podem adotar medidas fiscais para mitigar os efeitos da crise.
No entanto, uma recessão ainda evidenciaria as fragilidades do cenário econômico e geopolítico atual, comprometendo a hegemonia americana, pressionando orçamentos governamentais e exacerbando tendências protecionistas.
Nas economias mais vulneráveis, as preocupações fiscais podem fazer com que os rendimentos dos títulos de longo prazo permaneçam estáveis ou até aumentem, enquanto os bancos centrais reduzem as taxas de curto prazo — uma dinâmica que já foi observada ocasionalmente nos últimos dois anos. É difícil imaginar que os mercados permitam que países como França ou Reino Unido tenham muita liberdade para implementar estímulos em momentos de crise.

