A Câmara dos Deputados sob pressão judicial
O ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), estabeleceu um prazo de dez dias para que a Câmara dos Deputados forneça informações sobre o andamento da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Blindagem, que foi aprovada na Casa na última semana. Essa medida ocorre após a apresentação de uma ação pelo deputado Kim Kataguiri (União-SP), que argumenta que a proposta é inconstitucional ao exigir autorização do Congresso para a abertura de processos contra parlamentares.
Kataquiri também levanta questões sobre a ampliação do foro privilegiado, o que inclui presidentes de partidos políticos, mesmo na ausência de mandato. Ele alega que a tramitação da PEC na Câmara foi irregular, citando que a análise ocorreu em dois turnos no mesmo dia, além de uma alteração entre o texto aprovado pelo plenário e o que foi enviado ao Senado. “Acreditamos ser imprescindível a concessão de medida cautelar para suspender o andamento da PEC”, afirmou o deputado em sua ação judicial.
A petição destaca que “não se trata de questionar como o Congresso deve conduzir seus procedimentos internos — algo que o Poder Judiciário realmente não pode fazer — mas sim de permitir que a sociedade compreenda e acompanhe as modificações propostas na Constituição Federal, que é a essência da cidadania.” Essa afirmação sublinha a importância da transparência nas ações do legislativo.
Reações no Congresso e apoio para suspender a proposta
Além disso, 35 outros parlamentares, pertencentes aos partidos PT e PSOL, uniram-se a Kataguiri na solicitação para interromper o andamento da PEC. No mandado de segurança dirigido ao STF, eles alegam que a proposta não respeitou o rito legislativo apropriado e, portanto, afronta tanto o regimento interno da Câmara quanto a Constituição.
Os partidos se opõem à falta de apresentação em tempo hábil das emendas e à ausência de publicidade do parecer do relator, além da convocação de sessões de deliberação sem o devido aviso prévio para a votação da proposta. Essa série de alegações levanta questões sobre a legitimidade do processo legislativo em relação a esta PEC controversa.
A votação da PEC foi finalizada na tarde de quarta-feira (17) por meio de uma manobra regimental liderada pelo Centrão e pelo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), que buscou reverter a rejeição de um trecho em uma análise anterior. Com isso, a proposta já tomou o caminho do Senado.
Implicações da PEC da Blindagem
A proposta aprovada altera as condições sob as quais deputados e senadores podem ser processados criminalmente, determinando que tal processo somente poderá ocorrer após a autorização da respectiva Casa do parlamentar — seja a Câmara ou o Senado, conforme o caso. Além disso, a PEC propõe a extensão do foro privilegiado aos presidentes nacionais de partidos que tenham representantes eleitos e estabelece que medidas cautelares contra congressistas só poderão ser determinadas por ordem do Supremo Tribunal Federal.
Com este cenário em evolução, muitos observadores do direito constitucional e da política brasileira aguardam ansiosamente a decisão de Toffoli, que pode ter um impacto significativo sobre a autonomia do Congresso e sobre a relação entre os poderes no Brasil.