Ações da Braskem visam garantir segurança e recuperação da área afetada pela mineração em Maceió
A Braskem, empresa do setor petroquímico, atendeu a uma recomendação do Institut für Gebirgsmechanik (IFG), instituto alemão, e anunciou o preenchimento com material sólido de todas as dez minas de sal-gema que permanecem pressurizadas em Maceió. Essa ação, sugerida em um relatório datado de 23 de julho, ao qual a Gazeta teve acesso, visa mitigar o afundamento do solo na região ao longo do tempo.
O geólogo Abel Galindo, que foi o primeiro a alertar sobre os riscos da mineração de sal-gema em áreas urbanas, é enfático em sua análise. Ele prevê que, dentro de uma década, as áreas impactadas pela mineração estarão estáveis e poderão ser novamente habitadas. Segundo Galindo, é crucial que as minas sejam devidamente aterradas e monitoradas, pelo menos, por um período de dez anos. “Se ao final desse período as áreas forem consideradas estáveis, então a ocupação ao redor pode ser retomada”, afirmou.
Em declarações à Gazeta, a Braskem confirmou que a empresa tem intensificado os estudos necessários para viabilizar a implementação do plano, incluindo a definição de um cronograma. Em resposta à Agência Nacional de Mineração (ANM), a empresa informou que apresentará o cronograma detalhado no segundo semestre deste ano.
A ANM acrescentou que o enchimento das minas é uma atividade que requer um horizonte de médio a longo prazo. De acordo com a agência, essa medida deve reduzir os riscos de novos sinkholes e, conforme os dados apresentados pela Braskem, a subsidência na área já tem mostrado uma tendência de diminuição ao longo do tempo. “A expectativa é que, com o preenchimento, a subsidência continue a diminuir gradativamente até que se estabilize”, destacaram.
Estudo alemão ressalta riscos futuros e a importância do preenchimento das cavernas
O instituto alemão esclareceu que, no estado atual das cavernas, não há risco iminente de colapso do tipo sinkhole. No entanto, alertou para a possibilidade de deterioração futura, que poderia resultar em uma conexão hidráulica com as camadas superiores e migração ascendente. O preenchimento dessas cavernas, conforme o documento, é uma estratégia eficaz para estabilizar a estrutura e eliminar potenciais riscos futuros relacionados a sinkholes.
Em relação ao futuro uso da área afetada, a Gazeta questionou a Braskem, que é agora proprietária dos terrenos. A empresa reiterou que, de acordo com o Termo de Acordo Socioambiental firmado com o Ministério Público Federal e com a participação do Ministério Público do Estado de Alagoas, a mineradora se comprometeu a não realizar construções ou atividades habitacionais nas áreas desocupadas. “Portanto, a decisão sobre o futuro dessa região não cabe apenas à Braskem”, ressaltou.
A nota técnica do IFG também recomenda que o cronograma de preenchimento em andamento continue, dado que a possibilidade de surgimento de buracos na superfície não pode ser descartada. Novos levantamentos por sonar são aconselhados para as cavernas M28 e M31, a serem realizados em até seis e doze meses, respectivamente, para confirmar a posição e volume das cavidades. O instituto alertou que, caso sejam identificados sinais de migração ou deformação na caverna M31, a sondagem deve ser antecipada.
A mina 31 é uma das maiores cavidades, com um volume aproximado de 400 mil metros cúbicos, localizada na encosta do Mutange. Apesar da espessa camada de sal, a M31 foi consideravelmente despressurizada, e um novo levantamento por sonar é recomendado devido à falta de dados atualizados desde 2020.
Conforme informações da ANM, entre as 35 cavidades existentes, 14 já foram preenchidas (sendo 8 com areia e 6 por autopreenchimento). A mina 18, que colapsou em dezembro de 2023, recebeu preenchimento natural, apesar do plano inicial ter sido o preenchimento com areia, uma mudança aprovada pela ANM devido às circunstâncias.
Atualmente, dez minas permanecem pressurizadas; seis estão em processo de preenchimento e cinco estão em preparação. Essa era a situação até 30 de junho, segundo o relatório da ANM.
Sobre a perda de pressurização, a ANM informou que apenas uma cavidade apresentou essa condição: a mina 16, que teve autorização para preenchimento com areia. Quanto às minas preenchidas de forma natural, a agência garantiu que estão estáveis e não requerem mais preenchimento, inclusive a mina 18, que está em fase de elaboração do plano de fechamento da frente de lavra.
O estudo de impacto ambiental sobre o colapso da mina 18 não identificou passivos ambientais significativos, nem impactos à segurança da população nas proximidades. Os impactos foram localizados principalmente na Área Diretamente Afetada (ADA), com um raio de aproximadamente 150 metros do local do colapso.
A ANM esclareceu também que os dados técnicos enviados pela Braskem não são auditados diretamente, mas devem estar acompanhados por Anotação de Responsabilidade Técnica (ART) emitida pelo CREA, assegurando a qualificação dos profissionais envolvidos. Além disso, a agência afirmou que todos os documentos são avaliados e embasam pareceres técnicos do Grupo de Trabalho GT-SAL, que fiscaliza as atividades de fechamento das minas. “A última fiscalização ocorreu em 5 de junho de 2025 e não foram encontradas anomalias que indicassem riscos ou emergências nas operações de fechamento das frentes de lavra”, concluiu a ANM.