Um Problema Real nas rodovias de Alagoas
No dia 5 de setembro de 2025, um grave acidente ocorreu na BR-110, em Paulo Afonso, na divisa de Alagoas e Bahia. O agente da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Adeilson do Carmo Castro, de 55 anos, estava em atividade para remover animais soltos da pista, uma tarefa comum nessa região marcada pela presença frequente de equinos e bovinos. Infelizmente, enquanto desempenhava esse trabalho, Adeilson foi atropelado por uma caminhonete e, apesar do socorro imediato, não sobreviveu aos ferimentos. O motorista do veículo foi detido, mas não apresentava sinais de embriaguez. O trágico incidente ocorreu em um ponto crítico onde a BR-110 se cruza com a BR-423, área notória por acidentes envolvendo animais na pista.
Horas antes, outro acidente fatal foi registrado na BR-423, em Delmiro Gouveia, onde o empresário Matheus Henrique, conhecido popularmente como “Matheus Burguer”, perdeu a vida após colidir com um cavalo. Esses dois casos trágicos ilustram a realidade perigosa enfrentada por motoristas nas estradas de Alagoas.
Dados Alarmantes Sobre acidentes com Animais
Segundo a PRF, entre 1º de janeiro e 10 de setembro de 2025, ocorreram 22 acidentes nas BRs de Alagoas que envolveram animais, resultando em três mortes e nove feridos em estado grave. Em comparação, durante o mesmo intervalo em 2024, foram registrados 27 acidentes, que culminaram em quatro mortes e sete feridos graves. Apesar da diminuição no total de acidentes, as ações das equipes de manejo aumentaram de 143 em 2024 para 191 em 2025.
“A presença de animais soltos nas rodovias ainda é uma realidade preocupante, muito devido à falta de cuidado dos proprietários. Com a seca do verão, os animais tendem a fugir das cercas em busca de alimento. É imprescindível que os proprietários façam a devida manutenção das cercas e amarrações para evitar essas fugas”, explica Lisboa Júnior, porta-voz da PRF.
Os trechos mais críticos em Alagoas, conforme a PRF, incluem as rodovias BR-104 e BR-316. Além de realizar o manejo direto dos animais, a PRF também notifica fazendeiros e órgãos públicos, como os Ministérios Públicos Federal e Estadual, sobre os riscos e realiza campanhas de conscientização voltadas a motoristas e proprietários rurais.
Desafios de Manejo e Soluções Possíveis
Um dos principais desafios operacionais enfrentados pela PRF é a falta de locais apropriados para abrigar os animais recolhidos. “Precisamos de caminhões boiadeiros, vaqueiros e currais. Na BR-104, contamos com o apoio da prefeitura de União dos Palmares, mas isso é insuficiente para atender todo o estado”, destaca Lisboa Júnior.
Passagens de Fauna: Uma Abordagem Sustentável
Especialistas sugerem que a implementação de passagens de fauna pode ser uma solução eficaz para reduzir acidentes e proteger a vida selvagem nas rodovias. Marcos Araújo, presidente do Instituto SOS Caatinga, comenta: “Existem passagens simples, como redes e passarelas suspensas, além de estruturas mais complexas, semelhantes a viadutos e túneis, que podem ser integradas a sistemas de drenagem. A escolha da solução adequada depende da fauna local e das condições ambientais do trecho.”
A localização dessas estruturas é determinada por critérios técnicos e ambientais, levando em conta a proximidade de fragmentos de vegetação e cursos d’água. Os benefícios vão além da segurança nas estradas, pois essas passagens promovem o fluxo genético, a dispersão de sementes e a manutenção de ecossistemas saudáveis.
Henrique Lessa, gerente de Fauna e Flora do Instituto do Meio Ambiente (IMA), observa que sua instituição exige, no processo de licenciamento ambiental, que os projetos incluam passagens de fauna e monitoramento dos atropelamentos, além de relatórios sobre a efetividade das intervenções.
CETAS: Reabilitação de Animais Atropelados
Os Centros de Triagem de Animais Silvestres (CETAS) desempenham um papel crucial na conservação da fauna em Alagoas, recebendo e reabilitando animais vítimas de atropelamentos ou que foram apreendidos de cativeiros irregulares. Ana Cecília Pires, veterinária e bióloga do IMA, detalha o funcionamento do CETAS: “Quando um animal atropelado chega, ele passa por uma identificação inicial, onde avaliamos seus sinais vitais e determinamos o tratamento necessário. Mamíferos, como raposas, podem necessitar de primeiros socorros ou cirurgias ortopédicas, enquanto quelônios, como os jabutis, passam por reparos de casco. Para casos graves de trauma craniano, usamos medicamentos específicos para tratar os edemas e avaliar as condições de sobrevivência.”
Durante o tempo em que permanecem no CETAS, os animais recebem cuidados individualizados, incluindo tratamentos clínicos, fisioterapia e reabilitação comportamental. Quando é viável, são devolvidos à natureza; caso contrário, são encaminhados a zoológicos ou criadouros especializados. Ana Cecília ressalta que “alguns animais ficam com sequelas neurológicas, e garantimos que tenham as condições adequadas de alimentação e locomoção antes de serem transferidos para cativeiros.”