violência se Tornou Rotina nas Favelas
O rapper Don L expressou sua indignação em relação à recente chacina no Rio de Janeiro, a mais letal da história do estado e uma das maiores do Brasil. Em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, o artista lamentou a situação crítica da violência e acusou o governador Cláudio Castro (PL) de estar utilizando essa tragédia como uma oportunidade para sua campanha política. Segundo ele, “o governador está fazendo uma campanha política à custa de sangue de favelado”.
Don L, visivelmente emocionado, comentou sobre o impacto das imagens de violência que circulam constantemente. “Evitei ver muitas imagens porque essa exposição da nossa dor toda hora também já não comove mais ninguém. Só traz mais sofrimento para nós”, afirmou. Ele ainda fez uma crítica contundente sobre a apreensão de fuzis, afirmando que eles retornam para o tráfico. “Quem são essas pessoas? São as que lucram com isso”, lamentou.
A Desensibilização da Sociedade
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Na visão do rapper, a brutalidade frequente nas favelas reflete uma “perda da sensibilidade” da sociedade, que, segundo ele, faz parte de um “projeto de dessensibilização” comparável ao genocídio palestino. Essa crítica ressalta a necessidade urgente de olhar para as consequências da violência e seu efeito desumano nas comunidades mais afetadas.
Além de tratar sobre a brutalidade policial, Don L também falou sobre seu novo álbum, Caro Vapor II – Qual a Forma de Pagamento?, lançado em junho. O artista destacou que, apesar de manter a força política de suas produções anteriores, o novo trabalho apresenta uma sonoridade mais leve e dançante. “A música não serve só a um momento. Eu gosto de fazer músicas complexas, que têm várias camadas”, explicou.
O Papel da Música na Política
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Para Don L, ser político é algo inerente à sua arte. “Mesmo em uma love song, o que você está dizendo ali também é político. Quando você fala de um amor possível, que não depende de riqueza, você está propondo outro tipo de sonho”, refletiu. O rapper busca, por meio de suas letras, uma maneira de superar as dificuldades e fazer a vida valer a pena, sempre inspirado na tradição do samba e na malandragem brasileira.
Durante a entrevista, ele também abordou o tema da censura que os artistas enfrentam hoje, que ele considera ser “pior do que a ditadura militar”, por ser disfarçada. “Agora eles encontraram um método muito mais eficiente: financiar alguns e desfinanciar outros. Com a música, não é diferente”, afirmou Don L, ao analisar a nova forma de controle sobre a cultura e a informação.
Resistência e Cultura Nacional
O rapper, que foi um dos primeiros artistas a bloquear suas músicas em Israel em apoio à Palestina, reconheceu que existe um medo entre os artistas, mas reafirmou a possibilidade de resistência. “Por mais que eles queiram nos exterminar, vamos sobreviver”, declarou, transmitindo uma mensagem de esperança e luta.
Nascido no Nordeste, Don L ressaltou a importância de valorizar as expressões culturais da região. “Tem muita coisa no Brasil que teve grande produção, mas não teve grande escoamento”, comentou. O músico revelou que Caro Vapor II foi produzido utilizando apenas samples de artistas brasileiros, como uma forma de reafirmar a originalidade do rap nacional. “Eu queria que não tivesse nenhum resquício gringo, usar só o método do hip hop para reverenciar os antigos”, frisou.
Ao concluir a conversa, Don L pediu desculpas pela emoção ao comentar os efeitos devastadores da megaoperação policial no Rio de Janeiro. “Ainda está difícil para mim falar sobre o que aconteceu ontem, mas espero que consigamos tirar aprendizado e superar pra ter o país que queremos um dia”, finalizou, deixando um apelo pela transformação e esperança em um futuro melhor.

