Medidas de Apoio às Empresas Atingidas pela Sobretaxa dos EUA
No dia 13 de setembro, o governo Lula (PT) revelou um ambicioso plano de contingência destinado a ajudar as empresas que sofreram com a sobretaxa de 50% imposta a produtos brasileiros pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Denominado Plano Brasil Soberano, o pacote inclui uma linha de crédito que pode chegar a R$ 30 bilhões, visando apoiar as companhias impactadas por essas restrições comerciais. Além disso, o plano prevê o adiamento de impostos federais, um aumento no ressarcimento de créditos tributários e uma reformulação nas garantias de exportação, com o intuito de facilitar a busca por novos mercados.
As medidas foram formalizadas em uma Medida Provisória (MP) que entra em vigor imediatamente, mas que ainda precisa ser aprovada pelo Congresso em um prazo de até 120 dias. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, destacou que essa é apenas uma “primeira medida” e que outras ações podem ser consideradas no futuro, com o foco em mitigar os impactos sobre os setores mais afetados neste primeiro momento. Ele ainda alertou para a postura agressiva dos EUA em relação às exportações de produtos como soja e algodão, o que pode gerar novos desafios para o Brasil.
Reformulação do Fundo de Garantia à exportação e Aportes Financeiros
Um dos principais elementos do plano é a reestruturação do Fundo de Garantia à exportação (FGE). Este fundo, que já apresenta um superávit de aproximadamente R$ 50 bilhões, destinará R$ 30 bilhões à nova linha de crédito para exportadores, priorizando as empresas mais prejudicadas pelo tarifaço e aquelas de menor porte. Embora as taxas de juros ainda não tenham sido divulgadas, Haddad ressaltou que o FGE contará com recursos para financiar, a um custo reduzido, os setores afetados pela sobretaxa, mas abrangendo também outros segmentos da exportação.
Além do suporte aos exportadores, pequenas e médias empresas poderão acessar créditos através de fundos garantidores. O governo planeja aportes de R$ 1,5 bilhão no Fundo Garantidor do Comércio Exterior (FGCE), R$ 2 bilhões no Fundo Garantidor para Investimentos (FGI) e R$ 1 bilhão no Fundo de Garantia de Operações (FGO).
Ampliação do Reintegra e Extensão do Drawback
Outra ação significativa anunciada é a ampliação do programa Reintegra, que permite a devolução de parte dos tributos para empresas que exportam produtos manufaturados. O ressarcimento será de até 3,1% para grandes e médias empresas, enquanto micro e pequenas receberão 6%. Segundo Haddad, essa ampliação será válida até o final de 2026, coincidindo com a implementação da nova reforma tributária, que deverá aumentar a competitividade das empresas brasileiras no mercado externo, sem depender da continuidade do Reintegra. O impacto financeiro das concessões destes créditos está estimado em R$ 5 bilhões durante este período.
O governo também anunciou a extensão do drawback por mais um ano, mecanismo que suspende ou isenta tributos sobre insumos adquiridos para a produção direcionada à exportação. Isso significa que as empresas terão mais tempo para comercializar suas mercadorias no mercado internacional, priorizando as vendas que utilizam insumos beneficiados.
Facilitação das Compras Públicas e Adiamento de Tributos
Para apoiar ainda mais o setor produtivo, o plano prevê a facilitação, por um período de 180 dias, das compras realizadas pelo poder público de produtos que não poderão ser exportados devido à sobretaxa, com enfoque especial em produtos perecíveis. Além disso, haverá um adiamento no pagamento dos tributos federais pelos próximos dois meses, uma medida que busca aliviar a pressão sobre as empresas.
“Estamos apresentando um conjunto de medidas que visa assegurar a produção, o emprego e a abertura de novos mercados”, comentou o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), que também ocupa o cargo de ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Ele acrescentou que o governo está adotando uma postura ativa para corrigir os danos causados pelo tarifaço.
O Contexto Político e as Expectativas Futures
O anúncio foi feito no Salão Leste do Palácio do Planalto, com a presença de ministros, parlamentares e líderes de setores produtivos. Lula, ao chamar ao palco os presidentes da Câmara e do Senado, demonstrou um esforço em consolidar uma frente unida dos Poderes para enfrentar os efeitos da sobretaxa.
Durante seu discurso, o presidente enfatizou a necessidade de uma votação rápida da MP no Congresso, para que as empresas atingidas possam se beneficiar das medidas o quanto antes. A MP também impõe uma condição de manutenção de empregos para as empresas que utilizarem o socorro financeiro, embora haja a possibilidade de flexibilização para aquelas que enfrentarem dificuldades extremas.
A sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros foi anunciada em 9 de julho, sendo uma das mais severas impostas a qualquer país exportador aos EUA. O governo brasileiro, desde então, tem se reunido com representantes de diversos setores para entender os impactos da medida e suas demandas urgentes. O resultado do plano apresentado nesta quarta-feira é fruto dessas discussões, que visam minimizar os efeitos negativos sobre a produção e o emprego no Brasil.