Diálogo entre os presidentes fica em aberto
Na última sexta-feira (11), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, divulgou sua intenção de dialogar com Luiz Inácio Lula da Silva sobre as novas tarifas que pretende aplicar às importações brasileiras. O republicano, porém, destacou que esse encontro não ocorrerá em um futuro próximo.
Trump anunciou, na quarta-feira (9), através de uma carta publicada em suas redes sociais, a implementação de uma tarifa de 50% sobre produtos que chegam aos EUA vindos do Brasil. “Talvez em algum momento, mas não agora”, respondeu Trump, ao ser questionado pela repórter Raquel Krähenbühl, da TV Globo, sobre a possibilidade de discutir as tarifas com o presidente brasileiro.
Na correspondência, Trump justificou a taxação alegando que se trata de uma reação ao “tratamento muito injusto” que o ex-presidente Jair Bolsonaro teria recebido, insinuando que o político brasileiro estaria sendo alvo de perseguições judiciais.
Lula, por sua vez, utilizou suas redes sociais para reafirmar a soberania do Brasil, afirmando que o país não aceitará ser “tutelado por ninguém”. Apesar de não haver um contato direto entre os presidentes até o momento, a expectativa é de que a nova tarifa entre em vigor em 1º de agosto.
“Ele está tratando o presidente Bolsonaro de forma muito injusta”, continuou Trump. “Eu o conheço bem, já negociei com ele e ele é um bom negociador. Posso falar que ele é muito honesto e ama o povo brasileiro”, acrescentou, elogiando o ex-presidente.
Trump ainda se referiu a Bolsonaro como um “cara difícil de negociar”, mas que ele também era um negociador que prezava pela honestidade. O republicano, que tem se manifestado em defesa de Bolsonaro, publicou várias mensagens nos últimos dias, afirmando que o ex-presidente deveria ser “deixado em paz” e criticando o que considera uma perseguição injusta. Ele chegou a descrever as investigações contra Bolsonaro como uma “caça às bruxas”, referindo-se ao julgamento do ex-presidente no Supremo Tribunal Federal (STF) por uma tentativa de golpe de Estado.
Em resposta, Lula enfatizou que o processo judicial envolvendo a tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023 é de competência exclusiva da Justiça brasileira, reforçando que não aceita ingerências externas que possam ameaçar a independência das instituições nacionais. “O Brasil é um país soberano com instituições independentes que não aceitará ser tutelado por ninguém”, afirmou o presidente brasileiro, após a divulgação da carta de Trump.
Na entrevista ao Jornal Nacional, ocorrida na quinta-feira (10), Lula reiterou que o Brasil deseja negociar, mas que é fundamental que suas decisões sejam respeitadas. Ele ainda destacou que pode reagir com tarifas equivalentes caso não haja um acordo satisfatório.
“É importante esclarecer à opinião pública que não se trata de uma taxação ao Brasil. Desde que assumiu, Trump tem taxado países ao redor do mundo. É um direito dele, mas também é prerrogativa dos países responderem”, ressaltou Lula.
Lei de Reciprocidade Econômica e Respostas Tarifárias
Acerca das tarifas, o presidente Lula destacou que a imposição unilateral das novas taxas sobre as exportações brasileiras, conforme anunciado por Trump, será abordada com base na Lei da Reciprocidade Econômica. Essa legislação estabelece diretrizes de resposta em situações de retaliação comercial, garantindo ao Brasil um respaldo legal para reagir a medidas consideradas injustas, como a elevação tarifária proposta por Trump.
Entretanto, Lula ainda não revelou quais medidas serão adotadas em relação aos EUA. Em entrevista ao Jornal Nacional, o presidente expressou seu desejo de dialogar com o republicano, negando que suas críticas aos Estados Unidos tenham influenciado a decisão de Trump. Dessa forma, o contexto revela um cenário complexo entre os dois países, com a necessidade de diálogo, mas também de afirmação da soberania nacional.