Na última semana, a juíza da 8ª Vara Federal de alagoas, Camila Monteiro Pullin, divulgou uma decisão que impacta diretamente a Mineradora Vale Verde (MVV) e sua atuação na região de Craíbas. Essa decisão é acompanhada de perto pela Defensoria Pública da união (DPU) em alagoas, que defende a necessidade urgente de um acordo por parte da mineradora para a realização de estudos técnicos sobre as rachaduras que afetam dezenas de imóveis no município. A ação, que remonta a uma Ação Civil Pública movida em novembro do ano passado, visa a reestruturação das Defesas Civis Municipais de Craíbas e arapiraca, além da contratação de uma universidade para conduzir as pesquisas necessárias à avaliação dos impactos das atividades mineradoras nas propriedades locais.
As rachaduras em questão surgiram nas imediações da mina Serrote da Laje, que realiza a extração de recursos minerais, como ferro, cobre e ouro, desde 2021. A situação se torna ainda mais complexa, uma vez que não houve consenso sobre as questões ambientais até o momento. Paralelamente, tramita na Justiça Federal outra ação que investiga estudos hidrológicos e a possível contaminação do Rio Traipu, também monitorada pela DPU em alagoas.
Com relação às instituições que devem realizar os estudos técnicos, a lista inclui renomadas universidades, como a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade de São Paulo (USP) e Universidade de Brasília (UNB). No entanto, a MVV optou por contratar a Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), que, segundo a mineradora, demonstrou as melhores condições para a execução dos estudos, sempre após a devida análise técnica e a aprovação da Agência Nacional de Mineração (ANM) e do Instituto do Meio Ambiente de alagoas (IMA/AL).
Dentro do escopo do acordo proposto, está prevista a estruturação técnica das Defesas Civis de Craíbas e arapiraca, o que pode contribuir significativamente para a gestão de riscos na região.
Os danos relatados pelos moradores de Craíbas coincidem com o início das atividades de extração por parte da Mineração Vale Verde. Em março deste ano, a empresa foi adquirida pelo grupo chinês Baiyn Nonferrous, em um negócio avaliado em cerca de R$ 400 milhões de dólares, o que corresponde a aproximadamente R$ 2,3 bilhões de reais. A mina, que opera em sistema de lavra a céu aberto, possui reservas estimadas em 52,7 milhões de toneladas de minério de cobre, ferro e ouro, com um projeto que prevê 14 anos de atividade, podendo se estender para 20 anos conforme as diretrizes da ANM.
Recentemente, a Coordenadoria Estadual de Proteção e Defesa Civil de alagoas (Cepdec/AL) divulgou um documento alarmante que revela que 114 residências em Craíbas apresentam fissuras e rachaduras. Os moradores participaram de um questionário onde relataram que os danos são atribuídos às explosões geradas pelas atividades de mineração. Além disso, o documento aponta que, antes da instalação da mineradora, 76 residentes já apresentavam doenças pré-existentes, como diabetes e hipertensão. Contudo, após o início das operações da MVV, 95 moradores relataram novas doenças e uma queda significativa na qualidade da água dos poços, além de um aumento na poeira no ar e 312 reclamações sobre ruídos durante a noite.
A Mineração Vale Verde, em suas notas oficiais, tem se posicionado de forma firme em relação às acusações sobre a correlação entre suas atividades e os tremores de terra na região. A empresa nega qualquer vínculo com os abalos sísmicos e destaca seu compromisso com as melhores práticas de ESG (Ambiental, Social e Governança), garantindo que suas operações seguem rigorosamente os padrões estabelecidos pela legislação brasileira e estão alinhadas com as melhores práticas internacionais de monitoramento ambiental.
Essa situação destaca a complexidade dos desafios enfrentados por comunidades próximas a atividades de mineração, onde é crucial equilibrar o desenvolvimento econômico com a proteção do meio ambiente e a saúde pública. As próximas etapas do processo, incluindo a realização dos estudos técnicos e a resposta da Mineradora Vale Verde, serão fundamentais para determinar o futuro da região e o bem-estar de seus moradores.