**Ozempic: Venda Agora Requer Receita Médica e Preocupações com Uso Abusivo**
A partir de 23 de junho de 2025, a venda de medicamentos agonistas do GLP-1, incluindo Ozempic, Wegovy, Saxenda e Mounjaro, passará a ser regulada de maneira mais rigorosa no Brasil. A decisão da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) determina que a retenção de receita médica se tornará obrigatória para a aquisição desses fármacos, conforme anunciado em 16 de abril. Essa medida entra em vigor 60 dias após a publicação oficial, refletindo uma preocupação crescente com o uso inadequado desses medicamentos, que têm se tornado populares como soluções rápidas para a perda de peso.
Classificados com tarja vermelha, esses medicamentos sempre deveriam ser vendidos mediante apresentação de receita, mas, na prática, muitos consumidores conseguiam adquiri-los sem essa documentação. Essa facilidade gerou um aumento alarmante no uso fora das indicações clínicas recomendadas, levantando preocupações sobre o que pode ser considerado uso abusivo e sem a devida supervisão médica. De acordo com especialistas, o uso indiscriminado de medicamentos como o Ozempic pode resultar em uma escassez para aqueles que realmente necessitam, como os pacientes diagnosticados com diabetes tipo 2.
A Anvisa tomou essa decisão após uma análise cuidadosa de dados de farmacovigilância, que indicou uma quantidade significativamente maior de eventos adversos associados ao uso desses medicamentos fora das normas aprovadas em comparação com outros países. Os diretores da Anvisa enfatizaram a importância de proteger a saúde da população contra o uso impróprio dessas substâncias, que, embora desenvolvidas para o tratamento do diabetes, também passaram a ser amplamente indicadas para o controle de peso.
Um estudo realizado pela pesquisadora Thamires Capello, da USP, revelou que 45% dos consumidores de canetas emagrecedoras adquiriram esses medicamentos sem a devida prescrição médica, e 73% deles nunca receberam orientação de um profissional de saúde. Além disso, mais da metade dos entrevistados utilizou as substâncias exclusivamente para emagrecimento, sem considerar os riscos associados.
A situação é ainda mais alarmante quando se analisa o número de apreensões de medicamentos falsificados e contrabandeados. Em 2023, mais de 350 apreensões foram registradas em aeroportos brasileiros, com destaque para a confiscada pela Receita Federal que envolveu mais de 600 canetas no Aeroporto Internacional do Recife.
Os médicos alertam que o uso indiscriminado de Ozempic e seus similares pode trazer sérias consequências à saúde. Embora esses medicamentos possam oferecer benefícios significativos para o controle do peso e da glicemia quando utilizados de maneira adequada, o uso sem acompanhamento médico pode resultar em desnutrição, perda de massa muscular, e até problemas graves como queda intensa de cabelo e deficiências vitamínicas.
Profissionais de saúde, como a endocrinologista Cristina Schreiber, ressaltam a importância do monitoramento médico no tratamento com esses medicamentos. A supervisão adequada garante que a falta de apetite e o padrão alimentar dos pacientes sejam cuidadosamente acompanhados, evitando que a saúde do paciente seja comprometida. Além disso, a abordagem médica permite ajustes nas dosagens conforme necessário, aumentando a eficácia do tratamento a longo prazo.
O médico nutrólogo Noé Alvarenga acrescenta que o uso indiscriminado pode levar à perda progressiva de eficácia, exigindo doses cada vez maiores para obter os mesmos resultados. Sem o suporte contínuo de profissionais, os pacientes correm o risco de perder massa magra de forma irreversível, resultando em um reganho de peso rápido após a interrupção do tratamento.
Dados recentes indicam um aumento substancial no uso off-label desses medicamentos, com um estudo mostrando que as prescrições para perda de peso aumentaram 41% em 2022 em comparação ao ano anterior. Isso é preocupante, uma vez que muitos pacientes podem não estar cientes dos potenciais efeitos colaterais, que podem incluir problemas gastrointestinais e riscos à saúde pancreática.
A obesidade é uma condição multifatorial que afeta mais de um bilhão de pessoas em todo o mundo, representando um desafio significativo para a saúde pública. No Brasil, 56% dos adultos vivem com sobrepeso ou obesidade, o que torna a conscientização e regulamentação do uso de medicamentos para emagrecimento ainda mais urgente.
A Anvisa e especialistas em saúde enfatizam a necessidade de promover uma abordagem responsável e informada sobre o uso desses medicamentos, priorizando hábitos saudáveis e práticas de vida equilibradas como a primeira linha de tratamento para a obesidade.