**Baixa Adoção de Técnicas Modernas em Cirurgias de Hérnia no Brasil: Uma Análise Atualizada**
Em 2024, o Sistema Único de Saúde (SUS) realizou um total de 349.968 cirurgias de hérnia abdominal no Brasil. Desses procedimentos, a grande maioria, totalizando 311.300, foi classificada como eletiva, enquanto 38.665 foram consideradas emergenciais. Comparando com os dados de 2023, que registraram 335.730 cirurgias, observa-se um aumento no número de intervenções, mas a porcentagem de urgências permaneceu em 13,9%.
Um aspecto alarmante é que apenas 0,62% das cirurgias realizadas em todo o país empregaram técnicas minimamente invasivas. Esse índice é semelhante ao observado em alagoas, indicando uma tendência preocupante em relação à adoção de inovações cirúrgicas. Entre as possíveis razões para essa baixa adesão, destacam-se o elevado custo das tecnologias, a necessidade de capacitação médica específica e a infraestrutura hospitalar não adequada para suportar essas modalidades de tratamento.
**CIRURGIAS E SUAS VARIAÇÕES**
O levantamento da Sociedade Brasileira de Hérnia abrange uma variedade de procedimentos, que vão desde intervenções comuns, como a hernioplastia inguinal (unilateral e bilateral), até operações mais complexas, como hernioplastias com ressecção intestinal e reparos videolaparoscópicos. Essas intervenções são registradas no sistema do SUS sob diferentes terminologias técnicas, refletindo a complexidade e a variedade das patologias tratadas.
Apesar dos avanços tecnológicos e das inovações na medicina, as cirurgias minimamente invasivas destinadas à correção de hérnias abdominais permanecem como uma pequena fração dos procedimentos realizados pelo SUS. Em 2024, de todas as cirurgias de hérnias da parede abdominal, apenas 4.358 foram realizadas por meio de técnicas menos invasivas, como a videolaparoscópica e a robótica, representando cerca de 0,64% do total de intervenções.
A cirurgia videolaparoscópica é uma abordagem que utiliza pequenas incisões na região abdominal, empregando uma microcâmera e instrumentos especiais. Essa técnica proporciona ao paciente uma recuperação mais rápida, com cicatrizes menores e um risco reduzido de infecções. Por outro lado, a cirurgia robótica, que é indicada especialmente para casos de hérnias grandes ou recidivantes, é realizada com a assistência de um robô cirúrgico. Ambas as técnicas oferecem vantagens significativas em termos de conforto pós-operatório e diminuição das taxas de recidiva.
Contudo, os altos custos associados a esses procedimentos e a exigência de profissionais com treinamento avançado são barreiras que limitam a implementação dessas técnicas no sistema público de saúde. Segundo especialistas, como Gustavo Soares, cirurgião-geral e presidente da Sociedade Brasileira de Hérnia (SBH), o número de cirurgias minimamente invasivas ainda é muito baixo no Brasil. Um dos principais objetivos da SBH é promover condições que permitam o aumento desse indicador.
**CONSCIENTIZAÇÃO E PROJETOS EM ANDAMENTO**
Além disso, a Sociedade Brasileira de Hérnia está promovendo um Projeto de Lei que visa oficializar o Dia Nacional de Conscientização sobre as Hérnias da Parede Abdominal, a ser celebrado em 19 de junho. Essa iniciativa busca ampliar a conscientização da população sobre o tema e direcionar recursos públicos para atender pacientes que sofrem com essa condição.
**Cuidados Pós-Operatórios: Evitando a Reincidência das Hérnias**
Os avanços na medicina têm tornado a correção das hérnias da parede abdominal mais segura e eficaz. No entanto, o sucesso desses procedimentos também depende da atenção que o paciente dedica ao pós-operatório. O Dr. Igor Benevides, especialista em cirurgia abdominal, ressalta a importância desses cuidados para prevenir a reincidência das hérnias.
Muitas pessoas só percebem que têm uma hérnia abdominal ao notar um inchaço ou um nódulo em sua barriga, o que pode ser um sinal de um problema mais sério: um defeito na parede abdominal que permite a passagem de estruturas internas, como gordura ou intestinos. Esses tipos de hérnias podem surgir devido a esforços físicos excessivos, fraqueza muscular ou até mesmo como consequência de cirurgias anteriores. O tratamento é sempre cirúrgico e, na maioria das vezes, envolve a colocação de uma tela para fortalecer a musculatura da região afetada.
“A introdução do uso de telas cirúrgicas foi um marco na medicina”, afirma Dr. Igor. “Antes, as cirurgias eram realizadas sem esse recurso, resultando em taxas elevadas de recidiva.” Com as técnicas modernas e materiais mais seguros, o risco de a hérnia reaparecer diminui consideravelmente. No entanto, isso não significa que o risco tenha sido completamente eliminado. “As hérnias podem retornar, especialmente se o paciente não seguir as orientações pós-operatórias adequadas”, alerta o médico.
O retorno às atividades normais deve ser cuidadosamente avaliado. “Cada paciente possui características únicas. O tipo de hérnia, o local da cirurgia e até as condições físicas do indivíduo podem influenciar o tempo de recuperação”, explica Dr. Igor. Um dos erros comuns é o retorno precoce a atividades físicas ou levantamento de peso. “Muitas pessoas se sentem bem e acreditam que já podem realizar esforços, mas isso pode abrir caminho para a reincidência e a necessidade de uma nova cirurgia.”
A recomendação é clara: siga rigorosamente as orientações médicas. “Embora a cirurgia possa ter sido um sucesso, a recuperação plena depende do compromisso do paciente — com paciência, disciplina e cuidado”, conclui o especialista. Afinal, a prevenção de uma nova hérnia é sempre preferível à necessidade de enfrentar o procedimento cirúrgico novamente.