O príncipe William, duque de Cambridge e segundo na linha de sucessão ao trono britânico, expressou em uma entrevista ao programa Newscast da BBC, em 2021, uma reflexão profunda sobre o papel da inovação e do talento humano na preservação do meio ambiente. Ele destacou que as grandes mentes, especialmente aquelas por trás de empresas bilionárias, deveriam direcionar seus esforços para encontrar soluções que salvem o nosso planeta, em vez de se concentrar em explorar novas fronteiras no espaço. A declaração surge em um contexto onde magnatas como Richard Branson (Virgin Galactic), Jeff Bezos (Blue Origin) e Elon Musk (SpaceX) estão investindo pesadamente em turismo espacial, levantando questionamentos sobre as prioridades e responsabilidades dos mais ricos diante das urgentes crises climáticas que enfrentamos.
William argumenta que, enquanto essas grandes iniciativas podem ser vistas como avanços tecnológicos, elas também podem intensificar a crise ambiental já existente, uma vez que as viagens espaciais geram emissões significativas de dióxido de carbono (CO₂). Em um relatório importante apresentado na COP26, realizada no Reino Unido em 2021, a ONG britânica Oxfam alertou sobre o impacto negativo da acumulação de riqueza e recursos por uma minoria enquanto o planeta sofre as consequências das mudanças climáticas. A organização defende que os bilionários devem reconsiderar suas prioridades e evitar “saquear o planeta”, para não empurrar o mundo para um futuro climático perigoso.
Por outro lado, há uma luz no fim do túnel. Em contrapartida ao uso da inteligência e dos recursos em favor de interesses pessoais, existem muitas pessoas criativas e comprometidas, tanto no Brasil quanto em outras partes do mundo, que se dedicam a desenvolver soluções inovadoras para mitigar os efeitos das mudanças climáticas. Um exemplo inspirador vem de alagoas, onde mulheres visionárias estão à frente de negócios de impacto socioambiental, mostrando que é possível aliar empreendedorismo ao compromisso com a sustentabilidade. Essas empreendedoras não apenas buscam resultados financeiros, mas também se esforçam para transformar a vida de pessoas e comunidades por meio da preservação ambiental.
Mayris Nascimento, líder do projeto Nosso Mangue, é uma dessas mulheres que exemplifica essa nova abordagem. Ela acredita que o verdadeiro sucesso está em deixar um legado positivo e em promover a conscientização sobre a importância da preservação ambiental. As histórias de empreendedoras como Mayris, Lilian e Liliane Vicente da Amitis, e Lisania Pereira do Instituto Mandaver, mostram que ter um propósito é essencial para quem deseja fazer a diferença. Elas compartilham a visão de que o empreendedorismo vai além do lucro e deve englobar responsabilidade social e ambiental, inovação e um compromisso genuíno com a melhoria da sociedade.
As iniciativas de impacto socioambiental estão contribuindo para o crescimento do mercado verde, que se expande a cada ano em resposta às crises climáticas e à necessidade urgente de reduzir as emissões dos gases de efeito estufa (GEEs). O Brasil, por sua vez, ocupa uma posição estratégica para impulsionar soluções sustentáveis, especialmente com a realização da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) em Belém do Pará, que promete trazer novas oportunidades para a economia verde do país e permitir que mais empreendedores como essas mulheres tenham acesso a financiamento e suporte.
Mayris, em particular, ressalta que o sucesso de seu empreendimento está diretamente ligado ao seu propósito de vida. Como guardiã dos manguezais na Lagoa Mundaú, ela encontrou sua vocação ao se engajar em projetos sociais voltados para a preservação ambiental. Com recursos limitados no início, Mayris começou a plantar mudas de mangue, desenvolvendo um modelo de negócio que alia turismo regenerativo e compensação de carbono, além de promover a educação ambiental na comunidade local.
Desde seu início em 2019, o projeto Nosso Mangue já plantou mais de 25 mil mudas de mangue, refletindo o impacto positivo de suas ações. Mayris enfatiza que a paixão pelo que faz é fundamental, mas também é crucial manter um equilíbrio entre a missão ambiental e a viabilidade financeira do negócio. Ela acredita que o verdadeiro sucesso é alcançado quando se consegue unir amor pelo que se faz com a responsabilidade de gerar lucro.
A trajetória de Mayris e de outras empreendedoras de impacto é um testemunho do poder da colaboração e da visão coletiva. Elas entendem que não se trata apenas de um esforço individual, mas de um movimento que envolve múltiplos atores, como organizações de apoio e a comunidade, para alcançar resultados significativos. Essa abordagem coletiva é essencial para transformar a realidade e contribuir para um futuro sustentável, onde cada ação conta e cada semente plantada pode fazer a diferença.
Assim, enquanto algumas grandes mentes se distraem com a exploração espacial, outras estão profundamente enraizadas na terra, trabalhando incansavelmente para cuidar do nosso planeta e garantir um legado de sustentabilidade e justiça social. As iniciativas de mulheres como Mayris Nascimento são um exemplo vivo de que o verdadeiro progresso se mede não apenas pelo que conquistamos, mas pelo impacto positivo que deixamos nas vidas das pessoas e no meio ambiente. É um chamado à ação para que todos nós possamos ser parte dessa transformação necessária e urgente para o futuro do nosso planeta.